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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Carta à Rubem Alves





Rubem Alves, apesar de não nos conhecermos pessoalmente o considero meu amigo.
Antes de chegar no momento em que conheci um pouco de você, vou falar de outros amigos, alguns em comum que me fizeram companhia.

Há dois anos dei os primeiros passos importantes no que se pode chamar de caminho das dúvidas.
Passando por Marilena Chauí, Barthes, Bakunim, Joisten Gaarder, Rousseau e Nietzsche, o ano de 2011 mudou substancialmente a forma como vejo o mundo e também a mim.

Foi também neste ano que participei da criação do Sábado Insano. O nome emprestado do pessoal da Terça Insana, grupo de comédia, ajustado ao dia de um encontro no qual, eu, meu pai, minha irmã mais velha e meu irmão mais novo nos dedicamos de maneira desordenada ao estudo dos mais variados temas que gosto de chamar Humanidades. Linguagem, Filosofia, Sociologia, Poesia, Música, Artes e Comédia.

Com o advento do Sábado Insano, transformamos o sábado em um momento de reflexão e desconstrução das certezas que nos cercam com intuito de viver melhor.

Em 2012 fiz novos amigos, levei-os ao S.I. e alguns conheci ali. Foucault, Baudelaire, Sêneca, Alain de Botton, Thoreau, Tolstói e Eduardo Galeano. Este último foi por acaso, em uma ida à rodoviária do Recife (TIP). Em uma revistaria, minha atenção se voltou para um livrinho de bolso com o título "O livro dos abraços".  Que presente do meu novo amigo... Mastiguei o livro e provei o tempero que Galeano sabiamente escolheu para aquelas páginas, histórias... (Voltei a usar as reticências sem medo dos doutores da gramática por culpa sua, Rubem Alves)

Na companhia do Galeano fiz incríveis viagens, conheci tempos idos, culturas avançadíssimas vencidas pelo progresso. Um pouco da história dos vencidos, esquecida por vontade de alguns.

Me custa escrever sentimentos, a linguagem não acompanha.

Por um outro maravilhoso acaso, em outra viagem à Recife, desta vez ao Aeroporto, meu Pai conheceu as Pimentas. Com um apetite voraz ele provou e quis que provássemos. Ele, psiquiatra daqueles que procura curar conversando, levou-as para nosso encontro semanal.



O livro me despertou interesse de pronto, outro acaso, pois leva no título o sobrenome que herdei da minha mãe, Pimenta.

A histórias das bruxas nos chamou atenção, passamos com paixão por alguns dos presentes ofertados por você, revezando a leitura, um a um e fazendo reflexões. Aquele dos miolos, que é fantástico, uso sempre que tento indicar a alguém o poder da linguagem. Que imagem que você passou pra o papel. Tiraria meu chapéu se usasse... Como não uso, levo a história comigo.

No fim de 2012 fui à Lisboa passar férias com minha esposa que à época fazia mestrado por lá. No avião mesmo fui lendo, e relendo, algumas das suas Pimentas.
Chegando à Lisboa não pude concluir a leitura.
Participávamos, eu e ela, de um amigo secreto. A pessoa que daríamos presente não a conhecíamos bem e dizia-se que gostava de leitura. Dei o melhor presente que pude, deixei com ele um amigo do Brasil. Você ficou por lá, e eu tive que adiar nossos encontros para depois da viagem.

O amigo português que recebeu o presente, mandou dizer que fazia tempo que não lia tanto sabor. Palavras dele.

De volta a terra, na primeira oportunidade que tive, o trouxe de volta para casa. Finalizei as Pimentas e fiquei com o ardor na boca. Ficamos íntimos sem sequer um aperto de mãos. Grandes amigos, daqueles de partilhar sentimentos.
Àquela história de não querer conhecer o autor pessoalmente não dou muita importância. Quando puder, olharei em seus olhos, quem sabe um abraço sem nada dizer. Talvez, se não conversarmos muito, não afetaremos a imagem que tenho... Quem sabe...

Esses dias foi o aniversário do meu tio mais velho, dei-lhe de presente Pimentas. Ele te conhecia, mas não conhecia as Pimentas, apesar de tê-las no sobrenome. Ligou-me uma semana depois...
Reclamou comigo, perguntou se eu não tinha vergonha de presentear pessoas com mais de 60 anos com um livro daqueles. Disse que chorou e riu como menino e como velho, eu chorei e ri por dentro ao ouvi-lo. Lembrei-me de suas preocupações com seus netos. Para ele, o texto teve efeito profundo, mexeu por dentro.

Nas minhas recentes leituras tive o Variações Sobre o Prazer, o dito livro sem final. Tivemos que mudar o objeto das nossas reuniões Insanas Semanais pela primeira vez.

Preparamos um banquete. Sugestão sua e de babete.
Cada um faria um prato à sua escolha e juntos, no lugar de leitura, naquele sábado especial, teríamos Sapientia, Saberes e Sabor. O resultado foi dos melhores.
Nos últimos meses do Sábado Insano, tivemos a participação de mais pessoas. Uma tia, sua filha, meu cunhado, minha esposa e até sua irmã mais nova que sequer "debutou". O quarto ficou pequeno. Para o nosso primeiro banquete usamos a sala. Conseguimos envolver a companheira de meu pai que há tempo não participava e mais duas amigas dela.

Experiência nova, um banquete pelo banquete. Sentamos em círculo para olhar a todos enquanto comíamos.

Você meu amigo, trouxe novos hábitos. Há 15 dias resolvi, depois de suas variadas sugestões, escutar música clássica. Escolhi um, que agora é nosso amigo em comum. Juntei tudo que consegui de Schumann e pus no pen drive do carro para ouvir sozinho em alguma das minhas viagens à trabalho.

De início estranhei, confesso sempre ter achado enfadonha a música clássica. É que nunca tinha sido apresentado a ela como você carinhosamente fez. Despertou minha curiosidade. Ouvi sem pensar.
Música para o corpo.
Farei outra confissão, sem o medo de ser tido como pretensioso. Esta semana, enquanto voltava de uma cidade próxima, ouvia no som do carro alguma de Schumann, ainda não reconheço pelos nomes, sou uma criança nesse negócio, e me peguei a sorrir, no mesmo instante quis chorar. Não sabia o que fazer, indescritível. A música e meu corpo brincaram de fazer inveja ao Sujeito. Quando prestei atenção, quis interpretar, a sensação se foi...

Esta foi a maneira que encontrei para te agradecer meu amigo. Resolvi olhar através das lentes que me apresentastes. Colhendo a simplicidade que o cotidiano oferta.



Como sou um ser inacabado, não espero chegar em porto seguro, escolhi como propósito o movimento. Caminhar... Vontade de beleza...
Sigo, sempre que possível, observando o Ego, desconstruindo, reconstruindo, testando, pondo à prova, me maravilhando. Trilhando o caminho que alguns amigos trilharam, usando a utopia para seguir caminhando... Pela beleza...

Obrigado.

Grande abraço,
Julian Pimenta

quinta-feira, 21 de março de 2013

Fundação dos Idiomas



Segundo os antigos mexicanos, a história é outra.
Eles contaram que a montanha Chicomóztoc, erguida onde o mar se partia em duas metades, tinha sete grutas em suas entranhas.
Em cada uma das grutas reinava um deus.
Com terra das sete grutas, e sangue dos sete deuses, foram amassados os primeiros povos nascidos no México.
Devagarinho, pouco a pouco, os povos foram brotando das bocas da montanha.
Cada povo fala, até hoje, a língua do deus que o criou.
Por isso as línguas são sagradas, e são diversas as músicas do dizer.

Eduardo Galenao - Espelhos



É curioso perceber o papel da língua nas várias explicações sobre a gênese da humanidade.
Será apenas coincidência?
Será que o verbo está ai, como simbolo de divindade, por acaso?
No início era o verbo...

Boa reflexão.

Saudações cordiais,
O Estudante.



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O mundo à maneira humana

Afinal, do que é feito o mundo como nós, HUMANOS, o percebemos?
Numerosos pensadores se debruçaram sobre este tema e as conclusões são das mais diversas.


O mundo é realmente o que nós enxergamos?
(Para entender o sentido da pergunta filosófica é preciso entender um pouco de linguagem, simbolo, signo, significante e convenção)
Se por acaso surgir uma afirmativa em resposta a pergunta anterior vem logo outra em seguida.
Existe condição de garantirmos que isto é real?

Não tenho pretensão de responder todas essas questões nas poucas linhas seguintes. Meu maior anseio é registrar a dúvida. A dúvida, o incomodo, o desequilíbrio, são fundamentais para a criação de conceitos novos.

Registre-se em pixeis: Todas as críticas são aceitas. Quem sabe com ela construímos um ponto de discussão em comum? E a partir dai, quem sabe?

Pensem agora. Qual a finalidade de se criar o novo? Por que mexer no que está quieto? Há quem diga que isso faz perder o juízo. Não discordo que a possibilidade tem fundamento, mas o objetivo não é esse, portando quando sentires que as coisas estão saindo do padrão é melhor parar de pensar. Voltar às atividades cotidianas (Portas em automático) ajuda a parar o pensamento fragmentário, indica o caminho à loucura boa, a loucura circular. Já falei em texto anterior da loucura circular.

Este tipo de dúvida serve para pessoas mentais. Pessoas que se fazem pessoa com essa espinha atravessada na garganta. Para pessoas mentais a análise e confronto de dúvidas gera prazer incomensurável. Já para as pessoas emocionais o caminho da dúvida não é tão atrativo.

É preciso que o caminhante faça auto-análise.

Não existe predileção, nem tipo de pessoa certo ou errado. O importante é seguir caminhando como bem narrou o incomparável Eduardo Galeano.




Boa reflexão.

Saudações cordiais,
O Estudante.

domingo, 11 de novembro de 2012

Fragmentos


Ouvi certa vez da boca do Doutor que na vida, para que valesse a pena a passagem, era preciso fazer das pequenas notas uma bela sinfonia. Ele disse aquilo inspirado no Deleuze. Pouco tempo depois inaugurei este espaço.
Em minhas leituras e buscas, aleatórias e rizomáticas, encontrei Eduardo Galeano. Topei com ele na revistaria do TIP em recife. De lá pra cá tenho me reinventado através das Histórias e Estórias contadas em forma de fragmentos, verdadeiras notas que se transformam nas mais belas sinfonias que uma página pode contar. Abraços, Bocas, Filhos, Espelhos, Tempo, Mundo e Avesso.
Cada um cheio de pequenos presentes.

Aprendi que existiu uma tribo na Terra do Fogo. E que nos tempos idos os Onas adoravam vários deuses. O deus supremo se chamava Pemaulk.
Pemaulk significa palavra.

Aprendi dos Maias, mais precisamente de uma comunidade Tojolabal, um cumprimento mais humano.
-Eu sou outro você.
-Você é outro eu.

Aprendi que hierarquia e disciplina não são o que parecem ser.
Aprendi a duvidar ainda mais das minhas quase inexistentes certezas.
Aprendi a ser mais humano e menos civilizado.

A música reverbera com mais intensidade.
As cores pedem cada dia mais atenção.
O tempo passa e enxergo mais.

A alegria e a tristeza trespassam meu corpo.
Me regojizo com a vida.
Não sou mais triste nem alegrinho.
Estou aprendendo a me fazer e desfazer.

Inspirado na aranha que tece sua trama a despeito do vento.

Saudações Cordiais,
O Estudante.




domingo, 5 de agosto de 2012

Você já se deparou com ninguém?


Hoje me deparei com toda uma família de ninguéns.
Impossível não me lembrar do GRANDE Eduardo Galeano.

Aproveito a lembrança para contar o acontecido com um pouco de Galeano e um pouco de mim:

Encontrei uma família de ninguéns.
Mãe nenhuma, Pai ausente, filhos ninguéns...
Donos de nada, quase inexistentes.

Os olhos tão bem treinados de nossa sociedade não conseguem enxergá-los.
Estavam literalmente marginalizados, em um canto recuado da praia, para que suas carcaças quase translucidas não atrapalhassem o espetáculo da maravilha da criação.
Maravilha que pertence aos escolhidos.

Os ninguéns devem ter pago um PLANO barato, pensou comigo o Doutor.

Nada de diferente nesta maravilha dominical do que é a praia em uma cidade do litoral.
Estavam lá todas as criaturas.
Os homens e as mulheres. As crianças e os animais de companhia. Todos curtindo a boa-aventurança...
Estavam lá os bem aventurados e estavam lá os ninguéns.

Eu também não os vi de pronto. Foi preciso que um deles do sexo feminino, com idade de criança, me abordasse no caminho do carro.
- Moço, me dá um trocado?
Respondi que não tinha ali e que teria no carro.
Prontamente aquela que parecia ser a Mãe nenhuma disse a ninguém que me acompanhasse.
Assim ela o fez, carregando consigo um bebê ninguém e acompanhada de perto por outro ninguémzinho que mal sabia caminhar.
O ninguémzinho cambaleante de fome ou de inexperiência me acompanhou.
Olhando pra cima me disse:
- Osssoo, Caaaadimmm.
E repetiu com um sorriso estranho para aquela criatura, me fez lembrar uma criança:
- Daaaaaaa... Caaaadiiiimmm.
Perguntei ao ninguémzinho qual era seu nome. Talvez se ele me dissesse aliviasse minha angústia.
- Ele não sabe falar. Interrompeu a menina que parecia ser sua irmã.
Quis saber sua idade.
- Ele tem dois anos.
Perguntei a dela.
- Eu tenho doze. Me respondeu carregando ainda um outro ninguém no colo. Este eu não precisava perguntar, de olhar percebi que era muito novo.

O Doutor me alcançou no carro e se antecipou entregando o "Caaadddimmm" para a menina.
Sem acompanhar a cena ele percebeu o que eles queriam por ali.
Não é tão difícil perceber...
Basta ter olhos que vejam e ouvidos que escutem.

O ninguémzinho não percebeu que sua irma recebera o trocado e repetiu:
- Daaaááa Caaaadiiimmm.
Ela o puxou pelo braço e seguiram.
Nós entramos no carro e seguimos.

A maravilha da vida  continuou, nenhuma bola parou, nenhum copo deixou de se esvaziar, nem uma boca de mastigar. Na praia, tudo continuava pesadamente normal. Nada tinha acontecido, nem acontece alíás.

Poucos minutos depois o Doutor falou:
- Difícil é ver gente dessa idade nessa situação.

- Difícil é saber que ele aprendeu a mendigar antes de falar, respondi.

E seguimos calados o resto do caminho.

Deixamos uns trocados e levamos nó na garganta.

Quem eram eles? Não sei. Não tinham nome.
Eram Ninguém.


Boas reflexões,
O Estudante