Acontece todos os sábados ou quase. Nosso Sábado Insano é dedicado a estudos e discussões que desorganizam certezas.
Em um dos últimos encontros discutimos as ideias do livro de Roque de Barros Laraia.
Um dos integrantes conduziu a leitura, os outros trataram logo de duvidar.
Da dúvida surgiram discussões e outras dúvidas.
Se toda produção humana está inserida em contexto e sofre influências, haveria espaço para o novo?
Se o sujeito nasce no segundo nascimento, sendo esse parto feito pelos seus semelhantes que o chamam para o mundo conceitual e simbólico através da palavra, existe acesso consciente ao que havia antes?
A consciência é linguagem?
Existe homem além da consciência? A mente nos leva a interpretá-la como a ultima estação, teríamos para onde ir sem sua companhia?
Segundo nossas impressões mais fortes, somos nós que estamos valorando e escolhendo. Mas de onde vieram os nossos critérios de escolha?
Os gostos, hábitos e aspirações são nossos ou nos foram dados? Esse horizonte que enxergamos à nossa frente é real?
Gostaria de poder esclarecer todas essas dúvidas, mas não tenho certeza se meus símbolos atingiriam o alvo. Cabe ao sujeito decidir se vai se embrenhar nos caminhos da busca.
O terreno do conhecimento é tortuoso e rizomático, nada linear.
Boa sorte na sua busca.
Saudações cordiais,
O Estudante.
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quinta-feira, 4 de abril de 2013
Sábado Insano
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Roque de Barros Laraia
quinta-feira, 21 de março de 2013
Fundação dos Idiomas
Segundo os antigos mexicanos, a história é outra.
Eles contaram que a montanha Chicomóztoc, erguida onde o mar se partia em duas metades, tinha sete grutas em suas entranhas.
Em cada uma das grutas reinava um deus.
Com terra das sete grutas, e sangue dos sete deuses, foram amassados os primeiros povos nascidos no México.
Devagarinho, pouco a pouco, os povos foram brotando das bocas da montanha.
Cada povo fala, até hoje, a língua do deus que o criou.
Por isso as línguas são sagradas, e são diversas as músicas do dizer.
Eduardo Galenao - Espelhos
É curioso perceber o papel da língua nas várias explicações sobre a gênese da humanidade.
Será apenas coincidência?
Será que o verbo está ai, como simbolo de divindade, por acaso?
No início era o verbo...
Boa reflexão.
Saudações cordiais,
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
O mundo à maneira humana
Afinal, do que é feito o mundo como nós, HUMANOS, o percebemos?
Numerosos pensadores se debruçaram sobre este tema e as conclusões são das mais diversas.
O mundo é realmente o que nós enxergamos?
(Para entender o sentido da pergunta filosófica é preciso entender um pouco de linguagem, simbolo, signo, significante e convenção)
Se por acaso surgir uma afirmativa em resposta a pergunta anterior vem logo outra em seguida.
Existe condição de garantirmos que isto é real?
Não tenho pretensão de responder todas essas questões nas poucas linhas seguintes. Meu maior anseio é registrar a dúvida. A dúvida, o incomodo, o desequilíbrio, são fundamentais para a criação de conceitos novos.
Registre-se em pixeis: Todas as críticas são aceitas. Quem sabe com ela construímos um ponto de discussão em comum? E a partir dai, quem sabe?
Pensem agora. Qual a finalidade de se criar o novo? Por que mexer no que está quieto? Há quem diga que isso faz perder o juízo. Não discordo que a possibilidade tem fundamento, mas o objetivo não é esse, portando quando sentires que as coisas estão saindo do padrão é melhor parar de pensar. Voltar às atividades cotidianas (Portas em automático) ajuda a parar o pensamento fragmentário, indica o caminho à loucura boa, a loucura circular. Já falei em texto anterior da loucura circular.
Este tipo de dúvida serve para pessoas mentais. Pessoas que se fazem pessoa com essa espinha atravessada na garganta. Para pessoas mentais a análise e confronto de dúvidas gera prazer incomensurável. Já para as pessoas emocionais o caminho da dúvida não é tão atrativo.
É preciso que o caminhante faça auto-análise.
Não existe predileção, nem tipo de pessoa certo ou errado. O importante é seguir caminhando como bem narrou o incomparável Eduardo Galeano.
Boa reflexão.
Saudações cordiais,
O Estudante.
Numerosos pensadores se debruçaram sobre este tema e as conclusões são das mais diversas.
O mundo é realmente o que nós enxergamos?
(Para entender o sentido da pergunta filosófica é preciso entender um pouco de linguagem, simbolo, signo, significante e convenção)
Se por acaso surgir uma afirmativa em resposta a pergunta anterior vem logo outra em seguida.
Existe condição de garantirmos que isto é real?
Não tenho pretensão de responder todas essas questões nas poucas linhas seguintes. Meu maior anseio é registrar a dúvida. A dúvida, o incomodo, o desequilíbrio, são fundamentais para a criação de conceitos novos.
Registre-se em pixeis: Todas as críticas são aceitas. Quem sabe com ela construímos um ponto de discussão em comum? E a partir dai, quem sabe?
Pensem agora. Qual a finalidade de se criar o novo? Por que mexer no que está quieto? Há quem diga que isso faz perder o juízo. Não discordo que a possibilidade tem fundamento, mas o objetivo não é esse, portando quando sentires que as coisas estão saindo do padrão é melhor parar de pensar. Voltar às atividades cotidianas (Portas em automático) ajuda a parar o pensamento fragmentário, indica o caminho à loucura boa, a loucura circular. Já falei em texto anterior da loucura circular.
Este tipo de dúvida serve para pessoas mentais. Pessoas que se fazem pessoa com essa espinha atravessada na garganta. Para pessoas mentais a análise e confronto de dúvidas gera prazer incomensurável. Já para as pessoas emocionais o caminho da dúvida não é tão atrativo.
É preciso que o caminhante faça auto-análise.
Não existe predileção, nem tipo de pessoa certo ou errado. O importante é seguir caminhando como bem narrou o incomparável Eduardo Galeano.
Boa reflexão.
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sábado, 16 de fevereiro de 2013
Solidão
A solidão é a certeza cruel.
Não adianta espernear, praguejar ou enfeitar. A morte só aceita um por vez. Não há exceções...
O diálogo não passa de uma tentativa de moldar a realidade à sua guisa O consenso é burro e ingênuo.
A impossibilidade de transmissão adequada te compele a calar. Essa ideia na mente não encontra terreno fértil quando lançada além-mente.
São dois caminhos que levam à mesma solidão.
Falar sozinho, impossível fazer de outra forma, aliás, falar consigo mesmo.
Calar sozinho e enfrentar a companhia da mente e as vezes do corpo.
Não há o que falar em comunicação. Eu finjo que falo e você finge que me entende nesta loucura circular chamada ironicamente de normalidade.
A limitação do vocabulário aumenta a dificuldade em decifrar os significantes alheios, minam a comunicação.
Aos amantes deveria ser proibido conversar. Os corpos entendem de amar, a mente só atrapalha.
Em conversas nos mais variados temas escutamos aqui e acolá, com certa frequência:
-Ponha-se no meu lugar.
(C'est impossible)
Desculpe mas é impossível, o que está além-mente é suposição, convenção, mentira ou pior.
A falha do escravo da mente é (tentar) racionalizar o imponderável.
Dar sentido ao CAOS nem sempre é o mais acertado a se fazer. Me parece bem mais humano simplesmente estar além. CAOS ou ORDEM. Estar.
A necessidade por certezas é estéril e inebriante. Caminho à frustração.
Não consigo lembrar de outra coisa, senão, da aranha que tece sua teia apesar do vento.
É engraçado lembrar de como somos humanos ao despertar, existe ali, naquele momento, uma brecha, uma janela que logo se fecha sem avisar e as coisas voltam a fazer sentido.
A linearidade retoma majestosamente seu lugar.
Saudações cordiais,
O Estudante
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
O que impulsiona nossa espécie
Esses dias fiz uma viagem e mergulhei no universo de outra cultura, mais precisamente no universo da cultura Afro-Brasileira. Presenciei uma grande cerimônia do Candomblé.
Homens, mulheres, crianças e adolecentes. Gente de várias cidades e estados, juntos para realizar as festividades.
Procurei entre o sobe e desce de entidades e espíritos alguma coisa que eu pudesse reconhecer como divino, foi em vão. Com meus olhos destreinados para este tipo de ritual, só pude ver homens. Nada além disso.
Me pergunto. O que nos move a seguir crenças ou simplesmente não segui-las? Sartre bem antes de mim, pensou a respeito, e afirmou que os homens em geral tem ânsia por uma finalidade para a vida.
Ele responde a este questionamento através da alegoria do corta-papel.
Sartre observou que, a maioria do homens demonstra através de suas ações uma necessidade extrema em encontrar um sentido para a vida, uma finalidade precípua à sua existência.
A busca se torna na maior parte das vezes um estorvo, um peso enorme de frustração e desinteresse pelas coisas simples que compõem o cotidiano.
Em contraponto à ideia do corta-papel, o pensador francês, definiu o ser humano através de uma outra alegoria. A da pedra lascada.
A pedra lascada não fora criada. Foi descoberta, significada e transmudada pelo uso humano em ferramenta. Segundo este pensamento, a pedra lascada ganha valor no nosso mundo simbólico, como símbolo além da coisa em si. É portanto o olhar humano que dá sentido as coisas. Sentido CRIADO, INVENTADO, INTERPRETADO e ADAPTADO.
Perceber o papel do olhar do OUTRO neste mundo simbólico e conceitual não é das tarefas mais fáceis.
Boa reflexão.
Saudações Cordiais,
O Estudante.
PS: Esse texto teve inicio em 25 de setembro de 2011 e ficou esquecido por um tempo, esses dias eu consegui finalizá-lo.
Procurei entre o sobe e desce de entidades e espíritos alguma coisa que eu pudesse reconhecer como divino, foi em vão. Com meus olhos destreinados para este tipo de ritual, só pude ver homens. Nada além disso.
Me pergunto. O que nos move a seguir crenças ou simplesmente não segui-las? Sartre bem antes de mim, pensou a respeito, e afirmou que os homens em geral tem ânsia por uma finalidade para a vida.
Ele responde a este questionamento através da alegoria do corta-papel.
Sartre observou que, a maioria do homens demonstra através de suas ações uma necessidade extrema em encontrar um sentido para a vida, uma finalidade precípua à sua existência.
A busca se torna na maior parte das vezes um estorvo, um peso enorme de frustração e desinteresse pelas coisas simples que compõem o cotidiano.
Em contraponto à ideia do corta-papel, o pensador francês, definiu o ser humano através de uma outra alegoria. A da pedra lascada.
A pedra lascada não fora criada. Foi descoberta, significada e transmudada pelo uso humano em ferramenta. Segundo este pensamento, a pedra lascada ganha valor no nosso mundo simbólico, como símbolo além da coisa em si. É portanto o olhar humano que dá sentido as coisas. Sentido CRIADO, INVENTADO, INTERPRETADO e ADAPTADO.
Perceber o papel do olhar do OUTRO neste mundo simbólico e conceitual não é das tarefas mais fáceis.
Boa reflexão.
Saudações Cordiais,
O Estudante.
PS: Esse texto teve inicio em 25 de setembro de 2011 e ficou esquecido por um tempo, esses dias eu consegui finalizá-lo.
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011
O Arquivo - Victor Giudice
Escolhi trabalhar com O Arquivo de Victor Giudice primeiro por empatia com a maneira sublime e o estilo utilizado na composição de seus versos. Segundo por encontrar na sua história elementos que levam a crer que o poeta ora comentado foi um daqueles que lutou contra a ditadura mesmo estando dentro do sistema.
Victor Marino del Giudice nasceu em Niterói, no dia 14 de fevereiro de 1934 e morreu em 22 de novembro de 1997, viveu durante um período de mudança no cenário político nacional, o período da ditadura militar (1964-1985), e viu o povo ir às ruas em busca de liberdade, em busca de justiça.
Giudice aborda a temática da coisificação do homem no ambiente laboral. Com maestria e singularidade segue pela corrente contrária, levando consigo o leitor que acompanha a vida de joão, funcionário modelo, como se seu objetivo maior fosse servir à empresa até extinguir-se.
Boa leitura e reflexão.
Saudações cordiais,
O Estudante
No
fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus
vencimentos. joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego.
Não
se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal,
esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a
agradecer ao chefe.
No
dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o
salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou
a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito.
Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
Dois
anos mais tarde, veio outra recompensa.
O
chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.
Desta
vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior:
dezessete por cento.
Novos
sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.
Agora
joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia
menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento
aumentou.
Prosseguiu
a luta.
Porém,
nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.
joão
preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos.
Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou
a trabalhar mais duas horas diárias.
Uma
tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.
Respirou
descompassado.
-
Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.
joão
baixou a cabeça em sinal de modéstia.
-
Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial
de nosso reconhecimento.
O
coração parava.
-
Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na
reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.
A
revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.
-
De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos
cinco dias de férias. Contente?
Radiante,
joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao
trabalho.
Nesta
noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.
Mais
uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um
sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de
muita roupa.
Eliminara
certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.
Chegava
em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada.
Esfarelava-se
num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.
A
vida foi passando, com novos prêmios.
Aos
sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo
acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas.
Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou
vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os
farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.
O
corpo era um monte de rugas sorridentes.
Todos
os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.
Quando
completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:
-
Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias.
E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.
O
crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca
tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos.
Tentou sorrir:
-
Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer
minha
aposentadoria.
O
chefe não compreendeu:
-
Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de
alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro.
Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que
acha?
A
emoção impediu qualquer resposta.
joão
afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A
estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se,
planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.
joão
transformou-se num arquivo de metal.
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Victor Giudice
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Manifesto - Só a leitura salva
Não tive a oportunidade de conhecer o pessoal responsável pela elaboração do manifesto, mas a partir de agora tentarei acompanhar trabalhos desta natureza.
Acredito, como já disse em outros posts e em respostas à comentários, que as pessoas que buscam o conhecimento tem obrigação moral de apresentar aos seus semelhantes outras formas de pensamento, outros valores ou ideias.
É imprescindível para a melhoria da condição de vida da nossa espécie, que tenhamos mais leitura, mas tão importante quanto a leitura é estimular outras formas de inteligência. Através da música, do teatro e da pintura estimulamos áreas do nosso cérebro tão importantes como à da leitura. Quanto mais estímulo à plasticidade de nossa inteligência, mais possibilidades teremos de encontrar potencial e futuros "gênios".
Eu comecei contaminando os hábitos dos mais próximos.
Você vai contribuir com o quê?
Boa reflexão.
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Reflexões sobre o medo
![]() |
O Grito - Edvard Munch |
Vídeo da conferência do Estoril 2011.
Mia Couto escritor moçambicano, faz a leitura de um ótimo texto sobre o medo.
Depois de assistir ao vídeo deixei as minhas sinapses correrem mais soltas. Atalhei, recortei, fiz e refiz construções e ligações para sintetizar o que ouvi com os medos e impressões que me foram dados ao longo da vida. Impossível não relacionar as coisas que leio ou ouço com a minha pequena bagagem.
Confesso que minhas críticas ao que está posto estão recentemente influenciadas com as idéias marxistas. Seria impossível não estar influenciado. Esta é a conclusão a qual inúmeros pensadores chegaram antes de mim. Somos a todo instante, direcionados - ou domesticados, para falar a linguagem de Foucault - ao arbítrio do outro. O outro ou o Grande Outro está sempre presente em nossas ações, nas nossas aparentes decisões, nos pequenos círculos de poder onde eles se manifestam sem aparecer.
Complicado isso de ser e aparentar não ser. A mágica do negócio é precisamente esta. É fazer-se presente a cada instante, direcionando nossos anseios e inquietações com tamanha naturalidade ou naturalização que parecem fruto de um livre arbítrio, tão vendido e disseminado.
Gostaria, pois, de dedicar mais tempo ao pretenso livre arbítrio, porém vou me ater ao medo.
Da mesma sorte que as paixões, nossos medos são inseridos sem que nos apercebamos, e assim retiram o que há de mais belo no homem. A capacidade de reinventar, reler e criticar a fim de chegar ao novo.
Boa reflexão.
Saudações cordiais,
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segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Anistia por que e para quem?
Documentário produzido pelo Ministério da Justiça do Brasil no marco dos 30 anos da lei de anistia.
Hoje tive a oportunidade de assistir a este vídeo e decidi compartilhá-lo com vocês.
Todos nós temos alguma ideia acerca da ditadura e seus efeitos nefastos em nosso país, mas nem todos tiveram a oportunidade de se aprofundar um pouco mais nas questões que envolveram esse período histórico não muito distante. Espero que o vídeo estimule um estudo mais criterioso proporcionando a criação de um juízo de valor que sirva à manutenção dos direitos conquistados pelo nosso povo.
Nasci pouco antes da promulgação da constituição de 1988 e herdei os benefícios das lutas sociais contra o regime de exceção. Nunca me perguntei como, por que e para quem serviu a anistia, muito menos de que maneira estamos implicados na reparação do mal executado pelo nosso estado aos seus cidadãos.
Uma breve reflexão nos indica ações que respeitem a memória, verdade e justiça para honrar os que lutaram na ditadura e servir de limite ao autoritarismo.
Boa reflexão a todos.
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Hoje tive a oportunidade de assistir a este vídeo e decidi compartilhá-lo com vocês.
Todos nós temos alguma ideia acerca da ditadura e seus efeitos nefastos em nosso país, mas nem todos tiveram a oportunidade de se aprofundar um pouco mais nas questões que envolveram esse período histórico não muito distante. Espero que o vídeo estimule um estudo mais criterioso proporcionando a criação de um juízo de valor que sirva à manutenção dos direitos conquistados pelo nosso povo.
Nasci pouco antes da promulgação da constituição de 1988 e herdei os benefícios das lutas sociais contra o regime de exceção. Nunca me perguntei como, por que e para quem serviu a anistia, muito menos de que maneira estamos implicados na reparação do mal executado pelo nosso estado aos seus cidadãos.
Uma breve reflexão nos indica ações que respeitem a memória, verdade e justiça para honrar os que lutaram na ditadura e servir de limite ao autoritarismo.
Boa reflexão a todos.
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domingo, 25 de setembro de 2011
A menininha dos fósforos - Clarissa Pinkola Estés
Publico um aperitivo do livro mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estés.
A publicação abaixo é a junção de uma sinopse encontrada no site da editora Rocco, o conto e a análise da autora.
Discuti em um grupo de estudos que participo, vários trechos (contos e análises) deste livro. O que mais me chamou atenção foi o da menininha.
O conto me fez repensar inclusive alguns posicionamentos meus quanto aos mendigos.
Quem tiver interesse em ler o livro na íntegra pode encontrá-lo no Google em forma de PDF.
Boa leitura e reflexão.
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A publicação abaixo é a junção de uma sinopse encontrada no site da editora Rocco, o conto e a análise da autora.
Discuti em um grupo de estudos que participo, vários trechos (contos e análises) deste livro. O que mais me chamou atenção foi o da menininha.
O conto me fez repensar inclusive alguns posicionamentos meus quanto aos mendigos.
Quem tiver interesse em ler o livro na íntegra pode encontrá-lo no Google em forma de PDF.
Boa leitura e reflexão.
Saudações cordiais,
O Estudante.
Sinopse:
Os lobos foram pintados com um pincel negro nos contos de fada e até hoje assustam meninas indefesas. Mas nem sempre eles foram vistos como criaturas terríveis e violentas. Na Grécia antiga e em Roma, o animal era o consorte de Artemis, a caçadora, e carinhosamente amamentava os heróis. A analista junguiana Clarissa Pinkola Estés acredita que na nossa sociedade as mulheres vêm sendo tratadas de uma forma semelhante. Ao investigar o esmagamento da natureza instintiva feminina, Clarissa descobriu a chave da sensação de impotência da mulher moderna. Seu livro,Mulheres que correm com os lobos, ficou durante um ano na lista de mais vendidos nos Estados Unidos.
Abordando 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do patinho feio e do Barba-Azul, Estés mostra como a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo dos tempos, num processo que punia todas aquelas que se rebelavam. Segundo a analista, a exemplo das florestas virgens e dos animais silvestres, os instintos foram devastados e os ciclos naturais femininos transformados à força em ritmos artificiais para agradar aos outros. Mas sua energia vital, segundo ela, pode ser restaurada por escavações "psíquico-arqueológicas" nas ruínas do mundo subterrâneo. Até o ponto em que, emergindo das grossas camadas de condicionamento cultural, apareça a corajosa loba que vive em cada mulher.
A concentração e o moinho da fantasia
Na América do Norte, o conto intitulado "A menininha dos fósforos" é mais conhecido na versão de Hans Christian Andersen. Ele descreve as conseqüências da falta de alimento e da falta de concentração. Trata-se de uma história muito antiga, contada pelo mundo afora, em versões diferentes. Às vezes ela fala de um carvoeiro que usa seus últimos carvões para se aquecer enquanto sonha com tempos passados.
Em algumas versões, o símbolo dos fósforos é transformado em algum outro objeto, como na história do pequeno florista, que descreve um homem magoado que contempla fixamente o centro das suas últimas flores até desaparecer para sempre. Embora haja quem dê uma interpretação superficial a essas histórias e declare que não passam de histórias piegas, querendo dizer que elas têm excessivo apelo emocional, seria um erro ignorá-las sem lhes dedicar maior atenção. Em sua essência, esses contos são profundas expressões da psique, a qual pode vir a ser hipnotizada negativamente a um tal ponto que a vida real e vibrante começa a "morrer" em espírito.
A primeira vez que ouvi essa versão de '’A menininha dos fósforos" foi da minha tia Katerina, que veio para os Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, sua humilde aldeia de lavradores da Hungria havia sido dominada e ocupada por três nações hostis. Ela sempre começava a história dizendo que sonhos agradáveis sob circunstâncias difíceis não fazem bem; que nos tempos árduos precisamos ter sonhos fortes, reais, sonhos que possam se realizar se trabalharmos com afinco e bebermos nosso leite à saúde da Virgem.
A menininha dos fósforos
Era uma vez uma menininha que não tinha nem pai nem mãe e que morava na floresta negra. Havia nas proximidades da floresta uma aldeia, e ela havia aprendido que podia comprar lá fósforos por meio pêni que podiam ser vendidos na rua por um pêni inteiro. Se ela vendesse fósforos em quantidade suficiente, poderia comprar uma fatia de pão, voltar para sua meia-água na floresta e ali dormir com as únicas roupas que possuía.
Chegou o vento, e ficou muito frio. Ela não tinha sapatos, e seu casaco era tão fino que chegava a ser transparente. Seus pés há muito haviam passado do ponto de estar azuis de frio. Seus dedos dos pés estavam brancos, assim como os dedos das mãos e a ponta do nariz. Ela perambulava pelas ruas, implorando a desconhecidos que comprassem fósforos dela. Mas ninguém parava e ninguém prestava a mínima atenção a ela.
Por isso, uma noite ela se sentou dizendo para si mesma que tinha fósforos e que podia acender uma fogueira para se aquecer. Só que ela não tinha nem gravetos nem lenha. Resolveu acender os fósforos assim mesmo.
Ela se sentou com as pernas esticadas para a frente e acendeu o primeiro fósforo. Ao fazê-lo, pareceu-lhe que o frio e a neve desapareciam por completo. O que ela viu no lugar da neve rodopiante foi uma sala, uma linda sala com um enorme fogão de cerâmica verde-escuro, com uma porta de ferro trabalhado em arabescos.
Tanto calor emanava do fogão que o ar chegava a ondular. Ela se aconchegou junto a ele e se sentiu no paraíso. De repente, porém, o fogão se apagou, e ela estava mais uma vez sentada na neve, tremendo tanto que os ossos do seu rosto retiniam. E assim ela acendeu o segundo fósforo. A luz iluminou a parede do edifício ao lado de onde ela estava sentada, e ela subitamente pôde ver através da parede. Na sala por trás da parede, havia uma toalha alvíssima sobre a mesa, e ali na mesa havia porcelana do branco mais branco. Numa travessa, um ganso, que acabava de ser preparado. E, exatamente quando ela esticou a mão para alcançar o banquete, a miragem desapareceu.
Ela estava novamente na neve, mas agora seus joelhos e quadris não doíam mais. Agora o frio abria caminho pelo seu torso e pêlos braços com formigamentos e ardências, e por isso ela acendeu o terceiro fósforo. E na chama do terceiro fósforo havia uma linda árvore de Natal, com uma belíssima decoração de velas brancas, babados de renda e maravilhosos enfeites de vidro, além de milhares e milhares de pequenos pontos de luz que ela não conseguia discernir direito.
Ela olhou para o alto dessa árvore enorme que crescia cada vez mais e avançava cada vez mais na direção do teto até que se transformou nas estrelas do céu lá em cima. Uma estrela atravessou brilhante o céu, e ela se lembrou de suai mãe lhe ter dito que, quando morre uma alma, uma estrelai cai.
E do nada surgiu sua avó, tão carinhosa e delicada, e ai menina se sentiu feliz ao vê-la. A avó levantou o avental, envolveu nele a criança, abraçou-a bem apertado, e a menina sei sentiu contente.
Mas a avó também começou a desaparecer. A menina acendia cada vez mais fósforos para manter a avó consigo... cada vez mais fósforos para mantê-la consigo... cada vez mais... e elas começaram a subir juntas para o céu, onde não havia nem frio, nem fome, nem dor. E pela manhã, entre as casas, encontraram a menina imóvel e morta.
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Afugentando a fantasia criativa
Essa criança está num ambiente em que as pessoas não se importam com ela.
Se você está num ambiente desses, saia daí. Essa criança está num meio no qual o que ela tem, foguinhos em palitos — o início de toda possibilidade criativa — não é valorizado. Se você estiver numa aflição semelhante, vire as costas e vá embora. Essa criança está numa situação psíquica na qual há poucas opções. Ela se resignou ao seu "lugar" na vida. Se isso aconteceu com você, pare de se resignar e saia.
O que a menina dos fósforos deve fazer? Se os seus instintos estivessem intactos, suas opções seriam inúmeras. Caminhe até uma outra cidade, esconda-se numa carroça, abrigue-se num depósito de carvão. A Mulher Selvagem saberia o que fazer em seguida, mas a menina dos fósforos não conhece mais a Mulher Selvagem. A pequena criança selvagem está morrendo de frio; tudo o que resta dela é uma pessoa que se movimenta como se em transe.
Estar com pessoas reais que nos aqueçam, que apóiem e elogiem nossa criatividade, é essencial para a corrente da vida criativa. Do contrário, acabamos congeladas. O ambiente propício é um coro de vozes tanto interiores quanto exteriores que observa o estado do ser da mulher, tem o cuidado de incentivá-lo e, se necessário, também a conforta. Não tenho certeza do número de amigos de que precisamos, mas decididamente um ou dois que considerem o seu talento, qualquer que ele seja, pan de cielo, o pão dos céus. Toda mulher tem direito a um coro de elogios.
Quando as mulheres estão ao relento, no frio, elas costumam viver de fantasias em vez de ação. Fantasias desse tipo são o grande anestésico. Conheço mulheres dotadas de vozes maravilhosas. Conheço mulheres contadoras inatas de histórias.
Quase tudo que lhes sai da boca é de improviso e bem elaborado. No entanto, elas se sentem isoladas ou de algum modo destituídas dos seus direitos. Elas são tímidas, o que muitas vezes é um disfarce para um animus esfaimado. Elas têm dificuldade para perceber que recebem apoio de dentro, de amigos, da família ou da comunidade.
Para evitar o destino da menininha dos fósforos, há um importante passo que você deve dar. Qualquer um que não apoie sua arte, sua vida, não é digno do seu tempo. É duro mas é verdade. Se não pensarmos assim, adotamos direto os trapos da menina dos fósforos e somos forçadas a viver uma; fração de vida que mata pelo frio todo pensamento, toda esperança, talentos, escritos, alegrias, projetos e danças.
O calor deveria ser o principal alvo da menininha dos fósforos. Na história, porém, ele não é. Pelo contrário, ela tenta vender os fósforos, suas fontes de calor.
Essa atitude não deixa o feminino nem um pouco mais quente, rico ou sábio, e impede seu desenvolvimento futuro.
O calor é um mistério. Ele de certo modo nos cura e nos gera. Ele é quem solta o que está preso demais, propicia o movimento livre, o misterioso impulso de ser, o primeiro voo das ideias novas. Não importa o que o calor seja, ele aproxima as pessoas cada vez mais.
A menina dos fósforos não está num ambiente em que possa se desenvolver.
Não há calor, não há gravetos, não há lenha. Se estivéssemos no seu lugar, o que poderíamos fazer? Para começar, poderíamos não acalentar a terra de fantasia que a menina cria ao acender os fósforos. Existem três tipos de fantasias. O primeiro é a fantasia do prazer: uma espécie de sorvete mental, exclusivamente destinada à fruição, como quando sonhamos de olhos abertos. O segundo tipo de fantasia é a formação intencional de imagens. Essa fantasia é como uma sensação de planejamento. Ela é usada como veículo para nos levar a agir. Todos os sucessos — psicológicos, espirituais, financeiros e criativos — começam com fantasias dessa natureza. E existe ainda o terceiro tipo, aquela fantasia que paralisa tudo. É o tipo de fantasia que impede a ação adequada nos momentos críticos.
Infelizmente, é essa a fantasia criada pela menina dos fósforos. É uma fantasia que não tem nada a ver com a realidade. Ela está relacionada, sim, à sensação de que não há nada a ser feito mesmo e que não faz diferença se mergulhamos numa fantasia vã. Às vezes, essa fantasia está na mente da mulher. Às vezes, ela lhe chega numa garrafa de bebida, numa seringa, ou na falta dessas coisas. Às vezes, a fumaça de um alucinógeno é o meio de transporte; ou ainda muitos quartos descartáveis, mobiliados com uma cama e um desconhecido. As mulheres nessas situações estão representando a menininha dos fósforos em cada noite de fantasias e de mais fantasias, acordando congeladas e inertes a cada amanhecer. Existem muitas formas de perder o rumo, de perder nosso foco de atenção.
E o que poderá reverter essa situação e restaurar a auto-estima e o amor-próprio? Temos de descobrir algo muito diferente do que o que a menina dos fósforos tinha. Precisamos levar nossas idéias para um lugar onde elas encontrem apoio. Esse é um passo enorme concomitante com a volta ao foco de atenção: encontrar um lugar propício. Pouquíssimas mulheres têm condição de criar apenas com o próprio gás.
Precisamos de todos os estímulos que pudermos encontrar.
A maior parte do tempo as pessoas têm idéias fantásticas. Vou pintar aquela parede de uma cor que eu aprecie; vou bolar um projeto com o qual toda a cidade se envolva; vou fazer uns azulejos para meu banheiro e, se eu realmente gostar deles, vou vender alguns; vou voltar a estudar; vou vender a casa para viajar, vou ter um filho, deixar isso e começar aquilo, seguir o meu caminho, me organizar, ajudar a corrigir essa ou aquela injustiça, proteger os desassistidos.
Esses tipos de projeto precisam ser acalentados e alimentados. Eles precisam de apoio vital — de pessoas carinhosas. A menininha dos fósforos está aos frangalhos. Como diz a velha canção folclórica, esteve por baixo tanto tempo que até lhe parece que está por cima. Nada pode vicejar nesse nível. Queremos nos colocar em situações nas quais, como as plantas e as árvores, possamos nos voltar para o sol.
Mas é preciso que haja um sol. Para conseguir isso temos de nos mexer, não simplesmente ficar ali sentadas. Temos de fazer alguma coisa para tornar diferente nossa situação. Se não nos mexermos, estaremos de volta às ruas vendendo fósforos.
Amigos que a amem e que tenham carinho pela sua vida criativa são os melhores sóis do mundo. Quando uma mulher, como a menininha dos fósforos, não tem nenhum amigo, ela também se sente congelada de angústia bem como, às vezes, de raiva. Mesmo que se tenha amigos, eles podem não ser sóis. Eles podem confortá-la em vez de mantê-la informada das suas circunstâncias cada vez mais gélidas. Eles a consolam — mas isso é muito diferente do cuidado e carinho. O cuidado e o carinho levam a mulher de um lugar para outro. Eles são como cereais matinais psíquicos.
A diferença entre o consolo e o cuidado e carinho é a seguinte: se você tem uma planta que está doente porque vocês a mantém num armário escuro e você lhe diz palavras tranquilizadoras, isso é consolo. Se você tira a planta do armário e a põe ao sol, lhe dá algo para beber e depois conversa comi ela, isso é cuidado e carinho.
Uma mulher enregelada sem cuidado e sem carinho tem a propensão a se voltar para incessantes fantasias hipotéticas. No entanto, mesmo que ela esteja nessa condição de enregelamento, especialmente se ela estiver numa situação dessas, ela deve recusar a fantasia consoladora. É que esse tipo de fantasia nos deixará mortas sem a menor dúvida. Você sabe como essas fantasias letais se apresentam, "Um dia
quem sabe..."’’Se ao menos eu tivesse...", "Ele vai mudar..." e "Se eu só aprender a meu controlar... quando eu realmente estiver pronta, quando eu tiver XYZ suficiente, quando as crianças crescerem, quando eu me sentir mais segura, quando eu encontrar outra pessoa e logo que eu...", e assim por diante.
A menininha dos fósforos tem uma avó interna que em vez de gritar com ela "Acorde! Levante-se! Não importa a que custo, descubra um lugar quente!", prefere levá-la para uma vida de fantasia, levá-la para o "céu". Mas o céu não vai ajudar a Mulher Selvagem, a criança selvagem acuada ou a menininha dos fósforos nessa situação. Essas fantasias consoladoras não devem ser detonadas. Elas são distrações sedutoras e letais que nos afastam do trabalho verdadeiro.
Vemos a menina dos fósforos fazer uma espécie de permuta, um tipo de comércio maléfico, quando ela vende os fósforos, os únicos objetos que possui que poderiam aquecê-la Quando as mulheres estão desconectadas do amor benéfico da mãe selvagem, elas estão vivendo com o equivalente a uma dieta de subsistência no mundo exterior. O ego mal consegue se manter vivo, recebendo o mínimo de
alimento de fora e voltando a cada noite do ponto de onde começou, sem parar. Ali a menina adormece, exausta.
Ela não pode despertar para uma vida com um futuro porque sua desgraça é como um gancho no qual ela se pendura todos os dias. Nas iniciações, passar algum tempo sob condições difíceis faz parte de uma separação forçada da acomodação e do conforto. Como transição iniciática, esse período tem seu término, e a mulher "recém-preparada" começa uma vida criativa e espiritual revitalizada e esclarecida.
No entanto, poderia ser dito que as mulheres na situação da menininha dos fósforos foram envolvidas numa iniciação que deu errado. As condições hostis não servem para um aprofundamento, só para dizimar. É preciso que elas escolham um outro local, outro ambiente, com tipos diferentes de apoio e de orientação.
Historicamente, e em especial na psicologia dos homens, a doença, o exílio e o sofrimento são muitas vezes compreendidos como uma separação iniciática, ocasionalmente com enorme significado. No entanto, para as mulheres, há outros arquétipos iniciáticos que têm origem na psicologia e no físico da mulher. Dar à luz é um deles; o poder do sangue é outro, assim como estar apaixonada ou ser objeto de um amor benéfico. Receber a bênção de alguém que ela admira, receber ensinamentos profundos e positivos de alguém mais velho do que ela: todas essas são iniciações intensas e que possuem suas próprias tensões e ressurreições.
Seria possível dizer que a menina dos fósforos chegou muito perto e no entanto ficou longe demais do estágio transicional de movimento e de ação que teria completado sua iniciação. Embora ela possua os meios para uma experiência iniciática na sua vida miserável, não há ninguém nem dentro nem fora dela que oriente seu processo psíquico.
Em termos psíquicos, no sentido mais negativo possível, o inverno traz o beijo da morte — ou seja, uma frieza — a tudo o que toca. A frieza representa o fim de um relacionamento. Se você quiser matar alguma coisa, basta agir com frieza. Assim que vemos congelados nosso sentimento, nosso pensamento ou nossa atividade, o relacionamento não é mais possível. Quando os seres humanos querem abandonar alguma coisa dentro de si mesmos ou pretendem dar um "gelo" em alguém, eles os ignoram, deixam de convidá-los, isolam-nos, fazem o maior esforço para não ter nem mesmo de ouvir sua voz ou pôr os olhos sobre eles. É essa a situação na psique da menina dos fósforos.
A menina dos fósforos perambula pelas ruas e implora a desconhecidos que comprem fósforos dela. Essa cena mostra um dos aspectos mais desconcertantes quanto ao instinto ferido das mulheres, a entrega da luz por um preço baixo. As pequenas luzes nos palitos são semelhantes às luzes maiores às caveiras nas pontas das varas, na história de Vasalisa. Elas representam a sabedoria mas, o que é mais importante, elas acionam a conscientização, substituindo o escuro pela luz, recendendo o que acabou se apagando. O fogo é o principal símbolo da revivificação na psique.
Temos aqui a menina dos fósforos em extrema necessidade de, mendigando, oferecendo na realidade algo de valor muito maior — uma luz — do que o valor recebido em troca — um pêni. Quer esse "grande valor dado em troca de um valor menor" esteja dentro da nossa psique, quer ele seja vivenciado por nós no mundo objetivo, o resultado é o mesmo: maior perda de energia. Nessas circunstâncias, a mulher não consegue suprir suas próprias necessidades. Algo que quer viver implora pela vida, mas não obtém resposta. Temos, aqui, alguém que como Sofia, o espírito grego da sabedoria, tira a luz das profundezas, mas a revende em espasmos de fantasia inútil. Maus amantes, patrões execráveis, situações de exploração, complexos ardilosos de todos os tipos atraem a mulher para essas escolhas.
Quando a menina dos fósforos resolve acender os fósforos, ela está usando seus recursos para fantasiar em vez de usá-los para agir. Ela queima sua energia de um modo quase que instantâneo. Isso aparece com evidência na vida da mulher. Ela está determinada a entrar para a faculdade, mas demora três anos para decidir qual prefere. Ela vai fazer aquela série de quadros mas, como não tem um lugar em que possa exibir o conjunto, não dá prioridade à pintura. Ela quer fazer isso ou aquilo, mas não reserva tempo para aprender, para desenvolver bem sua sensibilidade ou sua técnica. Ela tem dez cadernos cheios de sonhos, mas fica enredada no seu fascínio pela interpretação e não consegue pôr em ação seu significado. Ela sabe que deve sair, começar, parar, avançar, mas não faz nada disso. E assim compreendemos seus motivos. Quando a mulher tem seus sentimentos congelados, quando ela não consegue mais se sentir, quando seu sangue, sua paixão, não mais atingem as extremidades da sua psique, quando ela está desesperada; em todos esses casos, uma vida de fantasia é muito mais agradável do que qualquer outra coisa ao alcance dos seus olhos. A pequena chama dos seus fósforos, por não ter nenhuma lenha a queimar, acaba queimando sua psique com se ela fosse uma grande acha seca. A psique começa a se iludir. Ela agora vive no fogo de fantasia da satisfação de todos os anseios. Esse tipo de fantasia é como uma mentira. Se você a repetir com bastante freqüência, começará a acreditar nela. Esse tipo de angústia de conversão, na qual os problemas ou questões são minimizados com a entusiástica fantasia de soluções irrealizáveis ou de tempos melhores, não ataca apenas as mulheres; ele é o maior obstáculo enfrentado pela humanidade. O fogão na fantasia da menina dos fósforos representa pensamentos calorosos. Ele é também um símbolo do centro, do coração, da lareira. Ele nos diz que sua fantasia está à procura do self verdadeiro, do coração da psique, do calor de um lar interno.
De repente, porém, o fogão se apaga. A menina dos fósforos, como todas as mulheres nesse tipo de aflição psíquica, descobre que está novamente sentada na neve. Vemos aqui que esse tipo de fantasia é momentâneo e destrutivo. Ele não tem nada a queimar, a não ser nossa energia. Muito embora a mulher possa usar suas fantasias para se manter aquecida, ela mesmo assim acaba num frio profundo.
A menina dos fósforos acende outros palitos. Cada fantasia se extingue, e a criança volta a congelar na neve. Quando a psique está gelada, a pessoa se volta para si mesma e para ninguém mais. Ela risca um terceiro fósforo. Ele é o número três dos contos de fadas, o número mágico, o ponto no qual algo de novo pode acontecer. Nesse caso, porém, como a fantasia supera a ação, nada de novo ocorre.
É irônico que haja uma árvore de Natal na história. A árvore de Natal evoluiu de um símbolo pré-cristão da vida eterna—a árvore que mantinha suas folhas verdes mesmo no inverno. Seria possível dizer que isso era o que poderia salvá-la, a ideia da psique da alma sempre verde, sempre crescendo, sempre em movimento. Mas o quarto não tem teto. A ideia da vida não pode ser contida na psique. A ilusão assumiu o comando.
A avó é tão carinhosa, tão dedicada, e no entanto ela é a morfina final, o último trago de cicuta. Ela atrai a criança Para o sono da morte. Em seu sentido mais negativo, esse é o sono da acomodação, o sono do entorpecimento — "Tudo bem, dá para eu aguentar"; o sono da negação — "Basta que eu olhe para o outro lado". Esse é o sono da fantasia maligna, no qual esperamos que todo sofrimento físico desapareça como que por mágica. Trata-se de um fato psíquico que, quando a libido ou a energia definha ao ponto de não mais se ver a respiração no espelho, a natureza da vida-morte-vida aparece, representada aqui pela avó. É sua a tarefa de chegar no momento da morte de alguma coisa, de incubar a alma que deixou sua casca para trás e de cuidar dessa alma até que ela possa renascer.
Essa é a bênção da psique de todo mundo. Mesmo diante de um final doloroso quanto o da menina dos fósforos, há um raio de luz. Quando se reúnem tempo, insatisfação e pressão suficientes, a Mulher Selvagem da psique lançará vida nova na mente da mulher, dando-lhe a oportunidade de agir em seu próprio interesse mais uma vez. Como podemos ver pelo sofrimento envolvido, é muito melhor curar nossa dependência da fantasia do que aguardar, com desejo e esperança, que sejamos ressuscitadas dos mortos.
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domingo, 11 de setembro de 2011
O que é Ideologia - Marilena Chauí
Tive a felicidade de ler este livro em uma excelente e oportuna complementação da matéria sociologia na faculdade.
Por falta de perícia e tempo, não tentarei resumir nem transmitir as ideias contidas no livro. Mas, como um adepto do século deleuziano ou "rizomático" forneço o link para que vocês se dediquem a esta leitura que na minha opinião é de grande valia.
Desejo a todos uma excelente formação como pessoas, independente da área profissional.
Saudações Cordiais,
O Estudante.
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quarta-feira, 13 de abril de 2011
O Ócio como Combustível
Longe de mim fazer apologia a exploração do homem pelo homem.
Mas é verdade, e os senhores não podem negar, que para produzir se faz necessário tempo.
Vide a Grécia antiga, com seus cidadãos que tanto avançaram em sua curta civilização, retirando com simplicidade a humanidade da completa escuridão, deixando naturalmente muita coisa por fazer e por pensar.
Olhando para trás percebemos que incontáveis homens (e mulheres) dedicaram grande parte de sua vida ao desenvolvimento e ao conhecimento. Essas pessoas que contribuíram, forçando os limites impostos às suas circunstâncias, tinham algo em comum. Além de estarem motivadas, quase que compelidas a extrapolar, elas empenharam o seu TEMPO nesta prática. E isso fez toda a diferença.
Na atualidade o tempo deixa de ser do homem e vira objeto de um sistema que faz questão preenchê-lo. De várias maneiras estamos sempre "participando" de alguma coisa extremamente interessante ou importante.
A lacuna do processo se apresenta na hora da famosa interação, tão em moda quanto esquecida. Simplesmente não participamos em absolutamente nada, somos na esmagadora maioria das situações meros espectadores.
É preciso dedicação ao ócio contemplativo, reservar um espaço para a mente divagar, se interessar, questionar, se admirar, para a razão atuar.
As instituições e as formas de poder ocupam a razão lentamente, dia após dia, sendo impossível evitar o contato. Todos sofrem influência. Tomem por exemplo uma criança. Com quantas horas de programação televisionada a criança chega ao seu primeiro dia de aula? Será que o professor do primário é o primeiro a incutir valores na mente deste novo ser?
A programação e os padrões não são ruins de todo. Só não devem ser a força que determina a ação do homem. Caso aconteça não há sequer liberdade.
Deixemos a preciosa liberdade de lado, ela não é objeto desta reflexão, e voltemos ao Ócio.
O Ócio é portanto a coisa mais importante que um sujeito pensante deve almejar.
É no momento de contemplação e análise que se encontra respostas.
Saudações cordiais,
O Estudante.
Créditos da Imagem http://www.mymodernmet.com/ Sempre deixando nosso blog mais bonito
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