Segundo os antigos mexicanos, a história é outra. Eles contaram que a montanha Chicomóztoc, erguida onde o mar se partia em duas metades, tinha sete grutas em suas entranhas. Em cada uma das grutas reinava um deus. Com terra das sete grutas, e sangue dos sete deuses, foram amassados os primeiros povos nascidos no México. Devagarinho, pouco a pouco, os povos foram brotando das bocas da montanha. Cada povo fala, até hoje, a língua do deus que o criou. Por isso as línguas são sagradas, e são diversas as músicas do dizer.
Eduardo Galenao - Espelhos
É curioso perceber o papel da língua nas várias explicações sobre a gênese da humanidade.
Será apenas coincidência?
Será que o verbo está ai, como simbolo de divindade, por acaso?
No início era o verbo...
Afinal, do que é feito o mundo como nós, HUMANOS, o percebemos?
Numerosos pensadores se debruçaram sobre este tema e as conclusões são das mais diversas.
O mundo é realmente o que nós enxergamos?
(Para entender o sentido da pergunta filosófica é preciso entender um pouco de linguagem, simbolo, signo, significante e convenção)
Se por acaso surgir uma afirmativa em resposta a pergunta anterior vem logo outra em seguida.
Existe condição de garantirmos que isto é real?
Não tenho pretensão de responder todas essas questões nas poucas linhas seguintes. Meu maior anseio é registrar a dúvida. A dúvida, o incomodo, o desequilíbrio, são fundamentais para a criação de conceitos novos.
Registre-se em pixeis: Todas as críticas são aceitas. Quem sabe com ela construímos um ponto de discussão em comum? E a partir dai, quem sabe?
Pensem agora. Qual a finalidade de se criar o novo? Por que mexer no que está quieto? Há quem diga que isso faz perder o juízo. Não discordo que a possibilidade tem fundamento, mas o objetivo não é esse, portando quando sentires que as coisas estão saindo do padrão é melhor parar de pensar. Voltar às atividades cotidianas (Portas em automático) ajuda a parar o pensamento fragmentário, indica o caminho à loucura boa, a loucura circular. Já falei em texto anterior da loucura circular.
Este tipo de dúvida serve para pessoas mentais. Pessoas que se fazem pessoa com essa espinha atravessada na garganta. Para pessoas mentais a análise e confronto de dúvidas gera prazer incomensurável. Já para as pessoas emocionais o caminho da dúvida não é tão atrativo.
É preciso que o caminhante faça auto-análise.
Não existe predileção, nem tipo de pessoa certo ou errado. O importante é seguir caminhando como bem narrou o incomparável Eduardo Galeano.
Hoje me deparei com toda uma família de ninguéns.
Impossível não me lembrar do GRANDE Eduardo Galeano.
Aproveito a lembrança para contar o acontecido com um pouco de Galeano e um pouco de mim:
Encontrei uma família de ninguéns.
Mãe nenhuma, Pai ausente, filhos ninguéns...
Donos de nada, quase inexistentes.
Os olhos tão bem treinados de nossa sociedade não conseguem enxergá-los.
Estavam literalmente marginalizados, em um canto recuado da praia, para que suas carcaças quase translucidas não atrapalhassem o espetáculo da maravilha da criação.
Maravilha que pertence aos escolhidos.
Os ninguéns devem ter pago um PLANO barato, pensou comigo o Doutor.
Nada de diferente nesta maravilha dominical do que é a praia em uma cidade do litoral.
Estavam lá todas as criaturas.
Os homens e as mulheres. As crianças e os animais de companhia. Todos curtindo a boa-aventurança...
Estavam lá os bem aventurados e estavam lá os ninguéns.
Eu também não os vi de pronto. Foi preciso que um deles do sexo feminino, com idade de criança, me abordasse no caminho do carro.
- Moço, me dá um trocado?
Respondi que não tinha ali e que teria no carro.
Prontamente aquela que parecia ser a Mãe nenhuma disse a ninguém que me acompanhasse.
Assim ela o fez, carregando consigo um bebê ninguém e acompanhada de perto por outro ninguémzinho que mal sabia caminhar.
O ninguémzinho cambaleante de fome ou de inexperiência me acompanhou.
Olhando pra cima me disse:
- Osssoo, Caaaadimmm.
E repetiu com um sorriso estranho para aquela criatura, me fez lembrar uma criança:
- Daaaaaaa... Caaaadiiiimmm.
Perguntei ao ninguémzinho qual era seu nome. Talvez se ele me dissesse aliviasse minha angústia.
- Ele não sabe falar. Interrompeu a menina que parecia ser sua irmã.
Quis saber sua idade.
- Ele tem dois anos.
Perguntei a dela.
- Eu tenho doze. Me respondeu carregando ainda um outro ninguém no colo. Este eu não precisava perguntar, de olhar percebi que era muito novo.
O Doutor me alcançou no carro e se antecipou entregando o "Caaadddimmm" para a menina.
Sem acompanhar a cena ele percebeu o que eles queriam por ali.
Não é tão difícil perceber...
Basta ter olhos que vejam e ouvidos que escutem.
O ninguémzinho não percebeu que sua irma recebera o trocado e repetiu:
- Daaaááa Caaaadiiimmm.
Ela o puxou pelo braço e seguiram.
Nós entramos no carro e seguimos.
A maravilha da vida continuou, nenhuma bola parou, nenhum copo deixou de se esvaziar, nem uma boca de mastigar. Na praia, tudo continuava pesadamente normal. Nada tinha acontecido, nem acontece alíás.
Poucos minutos depois o Doutor falou:
- Difícil é ver gente dessa idade nessa situação.
- Difícil é saber que ele aprendeu a mendigar antes de falar, respondi.
E seguimos calados o resto do caminho.
Deixamos uns trocados e levamos nó na garganta.
Quem eram eles? Não sei. Não tinham nome.
Eram Ninguém.
Vídeo da conferência do Estoril 2011.
Mia Couto escritor moçambicano, faz a leitura de um ótimo texto sobre o medo.
Depois de assistir ao vídeo deixei as minhas sinapses correrem mais soltas. Atalhei, recortei, fiz e refiz construções e ligações para sintetizar o que ouvi com os medos e impressões que me foram dados ao longo da vida. Impossível não relacionar as coisas que leio ou ouço com a minha pequena bagagem.
Confesso que minhas críticas ao que está posto estão recentemente influenciadas com as idéias marxistas. Seria impossível não estar influenciado. Esta é a conclusão a qual inúmeros pensadores chegaram antes de mim. Somos a todo instante, direcionados - ou domesticados, para falar a linguagem de Foucault - ao arbítrio do outro. O outro ou o Grande Outro está sempre presente em nossas ações, nas nossas aparentes decisões, nos pequenos círculos de poder onde eles se manifestam sem aparecer.
Complicado isso de ser e aparentar não ser. A mágica do negócio é precisamente esta. É fazer-se presente a cada instante, direcionando nossos anseios e inquietações com tamanha naturalidade ou naturalização que parecem fruto de um livre arbítrio, tão vendido e disseminado.
Gostaria, pois, de dedicar mais tempo ao pretenso livre arbítrio, porém vou me ater ao medo.
Da mesma sorte que as paixões, nossos medos são inseridos sem que nos apercebamos, e assim retiram o que há de mais belo no homem. A capacidade de reinventar, reler e criticar a fim de chegar ao novo.
Este espaço não nasceu com a finalidade de denúncias, porém me sinto compelido a corrigir um pouco o rumo do nosso trabalho.
Como vocês devem supor, dedico um pouco do meu tempo livre a leitura, às vezes leio romances para desanuviar a mente e quase sempre leio filosofia, para DESANUVIAR mais rápido. Em minhas leituras encontro aqui e acolá vocábulos que não fazem parte do meu cotidiano ou que simplesmente tenho alguma ideia do termo mas prefiro verificar no dicionário.
Eis com o que me deparo quando verifico a palavra ÍMPIO no site http://www.priberam.pt/dlpo/ (dicionário respeitado e muito acessado na rede)
Fiquei indignado com a relação que fizeram entre a falta de piedade e o ateísmo, a heresia ou ainda o sacrilégio.
Se no espaço virtual criado especificamente para consultas educacionais, para esclarecer dúvidas, encontramos tais relações temos que realmente nos preocupar. Se fizermos uma pequena reflexão e expandirmos esta iniquidade para outros tipos de preconceitos poderíamos facilmente encontrar:
imoral
adj.
1. Contrário à moral.
2. Falto de moralidade.
3. Desonesto.
4. Escandaloso.
5. Libertino.
s.m
6. Sem moral = Homossexual, Bissexual e congêneres.
Ou pior ainda poderíamos encontrar algo do tipo:
gatuno
adj. s. m.
Vadio que se dá ao furto; larápio; ratoneiro.
s.m
2. Ladrão = Negro, vagabundo e preguiçoso.
Para nossa quase tranquilidade os dois exemplos que citei não existem mais. Ou pelo menos não existem mais escritos, se alguém ainda pensa desta forma tem a obrigação cívica de guardar para si, pois a mera manifestação deste tipo espúrio de preconceito constitui crime.
É inegável, sinto dizer, que nossas leis são demasiadas lentas e nosso legislativo inoperante e surdo, pois a realidade social leva décadas para chegar ao "papel".
Destas incongruências com a realidade é que se constroem os preconceitos. Quando alguém ou alguma classe dominante resolve achar por bom, por justo, por correto algum conceito, este é aceito de imediato e difundido através dos instrumentos de controle das massas. Como bons exemplos para estes instrumentos temos a televisão, o rádio, enfim as mídias em geral.
A problemática do preconceito é enorme e para poder concluir o texto vou me ater ao que interessa a minha crítica.
É inadmissível que nos dias atuais tenhamos tais preconceitos sendo difundidos na grande rede, os organizadores deste site devem explicações a todos os homens de bem, ateus ou teístas. Quisera eu que a justiça.
Todos os indivíduos que compõem o que chamamos de coletividade, no nosso caso específico o Brasil, são responsáveis pelos crimes não punidos, pela falta de cultura como também pela quase inexistente tolerância.
A questão que ponho aqui não se reporta a sua órbita de direitos, ao contrário ela transcende por inteiro o pessoal, se entremeia no todo. Não importa a esta questão qual é o seu credo ou seu não credo, temos uma doença degenerativa no seio da nossa sociedade, ela se pronuncia na nossa complacência, na nossa vista grossa com os problemas do OUTRO.
Seguindo o raciocínio que expus concluo que é no problema que aflige ao outro que nós cometemos os maiores erros da história.
A ver: Guerras santas - Qual é o problema de matar no oriente? Santa inquisição - Qual o mal em torturar e condenar à fogueira, à roda, ao cadafalso, baseados em confissões retiradas a sangue? Conquista espanhola - Podem matar todos os ameríndios, até porquê eles não tem alma, são como animais, muito diferentes de nós. 70 milhões de mortos. Civilizações dizimadas, culturas perdidas. Trafico negreiro - Podem escravizar, estuprar, torturar todos os negros que conseguirem, afinal eles também não tem alma, dizem que nem sentem dor. Segunda guerra - É melhor ficarmos de fora, até por que o que Hitler está fazendo não nos concerne, são questões internas da Alemanha. Quantas vidas seriam poupadas se tivéssemos intervindo mais cedo? 60 milhões de mortos, incluindo 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis.
Poderia continuar e listar outros tantos erros cometidos ao longo da história, todos decorrentes de intolerância, ignorância e preconceito.
Faço outra ressalva não menos importante: não é por que muita gente acha que uma coisa é certa que ela forçosamente será, é preciso ter um olhar crítico sobre o que está posto.
A mudança a que me refiro deverá ser uma escolha sua, não importa quantas vezes escrevam ou falem, a análise dos principais dogmas deve ser empreendida por você.
Nunca é tarde para questionar, prescrutar e rever seus conceitos.
Lembre-se que até quando você não faz nada você pode estar contribuindo para atrocidades.