domingo, 24 de julho de 2011

Como nosso sistema constrói os preconceitos

Este espaço não nasceu com a finalidade de denúncias, porém me sinto compelido a corrigir um pouco o rumo do nosso trabalho. 
Como vocês devem supor, dedico um pouco do meu tempo livre a leitura, às vezes leio romances para desanuviar a mente e quase sempre leio filosofia, para DESANUVIAR mais rápido. Em minhas leituras encontro aqui e acolá vocábulos que não fazem parte do meu cotidiano ou que simplesmente tenho alguma ideia do termo mas prefiro verificar no dicionário. 

Eis com o que me deparo quando verifico a palavra ÍMPIO no site http://www.priberam.pt/dlpo/ (dicionário respeitado e muito acessado na rede)






Fiquei indignado com a relação que fizeram entre a falta de piedade e o ateísmo, a heresia ou ainda o sacrilégio.
Se no espaço virtual criado especificamente para consultas educacionais, para esclarecer dúvidas, encontramos tais relações temos que realmente nos preocupar. Se fizermos uma pequena reflexão e expandirmos esta iniquidade para outros tipos de preconceitos poderíamos facilmente encontrar:

 imoral 

adj.

1. Contrário à moral.

2. Falto de moralidade.

3. Desonesto.

4. Escandaloso.
5. Libertino.
s.m
6. Sem moral = Homossexual, Bissexual e congêneres.

Ou pior ainda poderíamos encontrar algo do tipo:

gatuno 

adj. s. m.
Vadio que se dá ao furto; larápio; ratoneiro.
s.m
2. Ladrão = Negro, vagabundo e preguiçoso. 


Para nossa quase tranquilidade os dois exemplos que citei não existem mais. Ou pelo menos não existem mais escritos, se alguém ainda pensa desta forma tem a obrigação cívica de guardar para si, pois a mera manifestação deste tipo espúrio de preconceito constitui crime.
É inegável, sinto dizer, que nossas leis são demasiadas lentas e nosso legislativo inoperante e surdo, pois a realidade social leva décadas para chegar ao "papel".
Destas incongruências com a realidade é que se constroem os preconceitos. Quando alguém ou alguma classe dominante resolve achar por bom, por justo, por correto algum conceito, este é aceito de imediato e difundido através dos instrumentos de controle das massas. Como bons exemplos para estes instrumentos temos a televisão, o rádio, enfim as mídias em geral.

A problemática do preconceito é enorme e para poder concluir o texto vou me ater ao que interessa a minha crítica.

É inadmissível que nos dias atuais tenhamos tais preconceitos sendo difundidos na grande rede, os organizadores deste site devem explicações a todos os homens de bem, ateus ou teístas. Quisera eu que a justiça.
Todos os indivíduos que compõem o que chamamos de coletividade, no nosso caso específico o Brasil, são responsáveis pelos crimes não punidos, pela falta de cultura como também pela quase inexistente tolerância.
A questão que ponho aqui não se reporta a sua órbita de direitos, ao contrário ela transcende por inteiro o pessoal, se entremeia no todo. Não importa a esta questão qual é o seu credo ou seu não credo, temos uma doença degenerativa no seio da nossa sociedade, ela se pronuncia na nossa complacência, na nossa vista grossa com os problemas do OUTRO.
Seguindo o raciocínio que expus concluo que é no problema que aflige ao outro que nós cometemos os maiores erros da história.
A ver:
Guerras santas - Qual é o problema de matar no oriente?
Santa inquisição - Qual o mal em torturar e condenar à fogueira, à roda, ao cadafalso, baseados em confissões retiradas a sangue?
Conquista espanhola - Podem matar todos os ameríndios, até porquê eles não tem alma, são como animais, muito diferentes de nós. 70 milhões de mortos. Civilizações dizimadas, culturas perdidas.
Trafico negreiro - Podem escravizar, estuprar, torturar todos os negros que conseguirem, afinal eles também não tem alma, dizem que nem sentem dor.
Segunda guerra - É melhor ficarmos de fora, até por que o que Hitler está fazendo não nos concerne, são questões internas da Alemanha. Quantas vidas seriam poupadas se tivéssemos intervindo mais cedo? 60 milhões de mortos, incluindo 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis.

Poderia continuar e listar outros tantos erros cometidos ao longo da história, todos decorrentes de intolerância, ignorância e preconceito.

Faço outra ressalva não menos importante: não é por que muita gente acha que uma coisa é certa que ela forçosamente será, é preciso ter um olhar crítico sobre o que está posto.
A mudança a que me refiro deverá ser uma escolha sua, não importa quantas vezes escrevam ou falem, a análise dos principais dogmas deve ser empreendida por você.
Nunca é tarde para questionar, prescrutar e rever seus conceitos.
Lembre-se que até quando você não faz nada você pode estar contribuindo para atrocidades.

Boa reflexão a todos os serem pensantes.

Saudações cordiais,
O Estudante.

3 comentários:

  1. Essa acepção posta pelo dicionário realmente procede? Nao dizer direito, mas talvez uma análise filologica pudesse desfazer eventuais equivocos. Aí saberiamos se é propria palavra "impio" em si ou se este dicionário q carrega a conotação pejorativa. A julgar pela minha percepção, deve ser pro do dicionario msm.

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  2. Como é referido no site, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) é um dicionário de português que teve por base o Novo Dicionário Lello da Língua Portuguesa (Porto, Lello Editores, 1996 e 1999), licenciado pela Priberam em 2008, cujo conteúdo foi adaptado para formato adequado à disponibilização electrónica pela Priberam e tem sido revisto pela sua equipa de linguistas, estando em constante actualização e melhoramento. Por este motivo, muitas das definições estão claramente datadas e têm sido alvo de reformulação.

    A função de um dicionário passa essencialmente por uma descrição dos usos da língua, devendo basear-se essencialmente em factos linguísticos e não estabelecer juízos de valor relativamente a esses factos linguísticos, antes apresentá-los o mais objectivamente possível. Relativamente às definições da palavra ímpio, o DPLP veicula o significado que ela apresenta na língua, mesmo que alguns dos seus significados possam revelar preconceito. A acepção "Homem sem piedade" referia-se à acepção mais etimológica da palavra "piedade", que é relativa ao "respeito pelos deveres religiosos". Sendo uma formulação datada e pouco clara, atendendo aos usos da língua contemporânea, o verbete "ímpio" foi reformulado (devido à chamada de atenção de vários utilizadores) para melhor descrever o seu uso, não podendo, no entanto, desviar-se do significado que tem na língua, independentemente das convicções de cada lexicógrafo ou utilizador do dicionário.

    Este não é, na língua portuguesa ou em qualquer outra língua, um caso único, pois as línguas, enquanto sistemas de comunicação, veiculam também os preconceitos da cultura em que se inserem. Esta mesma reflexão aplica-se a preconceitos linguísticos de qualquer natureza. Sobre este assunto, é pertinente consultar também a resposta http://www.flip.pt/Duvidas-Linguisticas/Duvida-Linguistica.aspx?DID=4742.

    Com os melhores cumprimentos,
    Helena Figueira
    Priberam - Departamento de Linguística

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  3. Agradeço a atenção da Sra. Helena Figueira em nos dar uma resposta e providenciar a correção do verbete no site: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=%C3%ADmpio

    É preciso estar atento...

    Saudações cordiais,
    O Estudante.

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